É em São José que está localizada a primeira casa para espetáculos teatrais de Santa Catarina ainda em funcionamento. Conhecido como Theatro Adolpho Mello, ele foi construído no século XIX, testemunhando um processo de transformação política e cultural da Grande Florianópolis, sendo até um quartel improvisado para tropas durante a Revolução de 1930.

Atualmente o Theatro Adolpho Mello é considerado patrimônio histórico e cultural de São José – Foto: PMSJ/ND
O Theatro Adolpho Mello fica localizado na Praça Hercílio Luz, no Centro Histórico de São José.
Em entrevista ao ND Mais, os historiadores Rodrigo Rosa, da Fundação Catarinense de Cultura; e Fabiano dos Santos, que também é arquiteto, exploraram os detalhes do ícone cultural de São José.
Olhar Histórico
No contexto de transição de vila para cidade, São José almejava acompanhar o exemplo das grandes metrópoles europeias e da então capital federal, Rio de Janeiro. A construção do Theatro Adolpho Mello refletia não apenas um desejo de progresso, mas também a busca pela “elevação cultural” das populações litorâneas.
Segundo Rodrigo Rosa, a emergência de equipamentos culturais como teatros e bibliotecas era vista como um processo civilizatório, um passo rumo à sofisticação e à educação das massas.
“Até a década de 1940 as populações do litoral só tinham discriminação devido às suas origens e as estruturas simplórias de suas cidades. As colônias europeias surgidas em meados da década de 1950 não viam com bons olhos as populações litorâneas”, afirma o historiador.
Construção do Theatro Adolpho Mello
Diante da escassez de recursos, a construção do teatro enfrentou desafios, tanto técnicos quanto financeiros. As vilas da então província de Santa Catarina eram pobres e pouco industrializadas, o que demandava uma abordagem pragmática na concepção e realização da obra.
A empreiteira contratada concentrou-se em erguer uma estrutura que fosse viável com os recursos disponíveis, resultando em uma construção concluída em menos de dois anos.
O Theatro Adolpho Mello foi erguido seguindo os padrões do estilo colonial, também conhecido como luso-brasileiro, comuns nas construções da época. Diferentemente de edifícios caros ou modernos, o foco era dotar a cidade com esses equipamentos culturais, priorizando sua função sobre a grandiosidade arquitetônica.
“O teatro recebeu internamente pinturas e outros melhoramentos oferecidos pela população local por meio das suas aptidões artísticas de ofícios com marcenaria e serralheria. No final do século XIX há relatos de um processo de restauro que muito provavelmente se deu internamente”, diz Rodrigo Rosa.
Transformações no Theatro Adolpho Mello ao longo do tempo
A reforma assinada por Defendente na década de 1920 alterou sobremaneira todas as estruturas do teatro, muitos elementos ornamentais foram instalados, alteração nas aberturas, no telhado, no frontão e em outras características do prédio luso brasileiro foram promovidas.
“De qualquer maneira não houve acréscimos à estrutura física, então o porte do teatro se manteve o mesmo desde meados do século XIX”, afirma Rodrigo.
Para compreender os desafios técnicos e conceituais enfrentados na restauração de edifícios históricos como o Theatro Adolpho Mello, Fabiano dos Santos, arquiteto e historiador, destacou a importância de equilibrar a preservação da arquitetura original com a integração de novas tecnologias e sistemas, garantindo a funcionalidade e o bom uso do espaço sem comprometer sua autenticidade.
Fabiano menciona os desafios enfrentados durante o processo de restauração de edifícios históricos, enfatizando a importância de seguir normas técnicas e critérios internacionais, bem como a legislação local, para garantir intervenções adequadas e respeitosas com o patrimônio cultural.
“Um edifício, por mais bem restaurado que ele seja, se ele não for usado, ocupado e preferencialmente um uso adequado, enfim, aquela vocação que ele tem, as características que ele tem, eu vou inclusive comprometer e até perder a média de longo prazo todos os ganhos, todo o resultado daquela intervenção bem sucedida”, afirma Fabiano.
“Eu destacaria que a existência do Theatro Adolpho Mello em si e o uso dele desde a sua origem, como teatro, como espaço de espetáculos, como espaço cultural, é a sua característica mais importante”, finaliza Fabiano.
Teatro é tomado por forças do Rio Grande do Sul

O Theatro Adolpho Mello em primeiro plano, sem data. Provavelmente na época da reforma de 1924 – Foto: Acervo APESC
Durante a Revolução de 1930 –organizada por oligarcas gaúchos, mineiros e paraíbanos– o Theatro Adolpho Mello foi tomado pelas forças vindas do Rio Grande do Sul, servindo de quartel e sofrendo grande alteração no seu interior, que foi todo alterado para poder acomodar estas tropas, segundo Rodrigo Rosa. Mas ainda na década de 1930 o prédio voltou a funcionar com o papel predominantemente de cinema.
“Por volta do ano de 1953 o prédio sofre nova reforma, funcionando como cinema até o ano de 1979 quando volta a fechar; volta a passando por mais uma reforma em 1980, promovida pela FCC, quando voltou a gestão do município”, diz Rodrigo.
Em 2005, o Teatro Adolpho Mello é tombado pelo Município como patrimônio cultural de São José.
Segundo a prefeitura de São José, em 2013, o prédio foi interditado para um processo de restauração. Na reforma, o prédio ganhou climatização, iluminação, sistema de sol, piso e forro novo, pintura interna e externa.
“É nesta reforma que a entrada do Theatro ganha uma estátua de Adolpho Mello, feita pelo artista plástico Plínio Verani. O prédio foi reaberto em 23 de dezembro de 2020, e desde então tem sido palco de diversas oficinas e apresentações teatrais”, diz a prefeitura.
Adolpho Mello

Adolpho Mello já foi chamado de “deus da música” pelos críticos. – Foto: Arquivo Público de Santa Catarina
O nome Adolpho Mello foi adotado no Teatro Municipal de São José apenas a partir da reforma de 1980, até esse momento ele era apenas chamado de Teatro Municipal de São José.
O teatro foi renomeado por Gilberto Gerlach, que fez uma homenagem ao violinista, compositor e regente Adolpho Ferreira Mello, josefense nascido em 1961, que além de artista, foi também tesoureiro-geral de Santa Catarina e diretor do Conselho Municipal de Desterro.
Adolpho Mello era também Maestro e chegou a apresentar recitais com Cruz de Souza e outros artistas da cena musical no final do século XIX.

Estátua em homenagem à Adolpho Mello – Foto: PMSJ/ND