As vozes do Carnaval de Florianópolis: conheça os intérpretes que dão o tom na Nego Quirido

No vibrante, colorido e agitado mundo do Carnaval, as escolas de samba são uma grande equipe, em que cada um desempenha um papel crucial para o sucesso do desfile na avenida Nego Quirido, em Florianópolis. Dentre as funções, está a do intérprete oficial, um dos responsáveis por dar vida aos sambas-enredos com suas vozes marcantes.

Desfila na Nego Quirido no Carnaval de 2023 – Foto: Leo Munhoz/ND

Como explica André Calibrina, maestro e comentarista da transmissão de Carnaval da NDTV Record, o intérprete é o responsável por puxar o desfile da escola de samba e por transmitir o enredo durante o espetáculo.

“Ele é responsável pelo andamento do samba-enredo durante o desfile. O seu cantar é normalmente auxiliado por um grupo de cantores de apoio, cavaquinhos, violão de sete cordas que desfilam junto ou ao lado do carro de som, logo depois da bateria”, explica.

Um dos grandes nomes do Carnaval carioca e brasileiro, o cantor e compositor Paulinho Mocidade, relata a importância de um intérprete oficial para a escola de samba.

“A escola de samba se resume no canto, no ritmo e na dança. No canto, tem que ficar muito encaixado a bateria e o carro de som com o puxador, com a sua voz agindo em harmonia com os outros componentes”, declara. “É uma responsabilidade muito grande, porque ele é a voz guia. Tem que ficar um arroz com feijão muito bem temperado”, compara.

Segundo Calibrina, a afinação dos cantores é levada em conta nos quesitos samba-enredo e harmonia.

Na Grande Florianópolis, são vários os talentos locais que soltam a voz na avenida durante os desfiles. Conheça a seguir os intérpretes oficiais das dez escolas de samba da Grande Florianópolis e a trajetória que os levará a desfilar na Passarela Nego Quirido, 10 de fevereiro, em um sábado.

Nação Guarani

  • Horário do desfile: 17h30 às 18h40
  • Enredo: Extraordinárias Mulheres da Nação
  • Intérprete oficial: Roba Sacode
  • Natural de: Joinville
  • Ocupação: metalúrgico
  • Idade: 45 anos

Roba Sacode, do Nação Guarani – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Nascido em Joinville, Roba começou a ter contato com o Carnaval nos blocos da Acadêmicos de São José. “Minha história direta com o Carnaval surgiu por intermédio dos meus pais, que me levavam pra ver os desfiles em Florianópolis. Me apaixonei”, conta.

Em 2009, quando a Nação Guarani, escola de samba de Palhoça foi fundada, o intérprete oficial já estava atuando no grupo musical e segue assim até hoje. “O Carnaval pra mim é emoção e arrepio. Quando entro na Nego Quirido e a música começa a tocar, ali faço o que amo. É como eu digo no meu bordão do samba: ‘aperta o play’”.

Jardim das Palmeiras

  • Horário do desfile: 18h45 às 19h55
  • Enredo: É no Toque do Adarrum que Todo Santo de Casa Vira Devoção
  • Intérprete oficial: Guilherme Partideiro
  • Natural de: Florianópolis
  • Ocupação: professor de música
  • Idade: 41 anos

Guilherme Partideiro, da Jardim das Palmeiras – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Residente em São José há mais de 20 anos, Guilherme nasceu em 1982, em Florianópolis. Aos três anos de idade já tocava pandeiro no Boi de Mamão do Pantanal, grupo folclórico do qual seu pai, Luiz, conhecido como Banjo, fazia parte. O intérprete está na Jardim das Palmeiras desde sua fundação, em 2005. Nos primeiros Carnavais, ainda como bloco carnavalesco em São José, Guilherme fez parte do carro de som da Jardim das Palmeiras tocando violão sete cordas.

Quando, em 2016, a Jardim das Palmeiras tornou-se escola de samba, e começou a disputar o Carnaval da Grande Florianópolis, na Passarela Nego Quirido, Guilherme Partideiro passou a ser o intérprete oficial da agremiação josefense. Logo no primeiro desfile como escola de samba, a Jardim das Palmeiras sagrou-se campeã do seu grupo. O enredo era sobre Raphael Soares, e Guilherme foi coautor do samba-enredo.

Em 2018 passou a fazer parte da Associação Cultural Marambolê, onde é professor de violão, e atende a crianças no contraturno do colégio. Guilherme dá aulas particulares de violão, violão sete cavaquinho, banjo e teoria musical há mais de 20 anos, em Forquilhinhas, São José. Em 2024, Partideiro fará seu quinto desfile como intérprete da Jardim das Palmeiras.

Império Vermelho e Branco

  • Horário do desfile: 20h às 21h10
  • Enredo: Divina Cerveja – A Criação de uma Deusa
  • Intérprete oficial: Leandro (conhecido como Zinho)
  • Natural de: Florianópolis
  • Ocupação: vigilante
  • Idade: 40 anos

Leandro, o Zinho, da Império Vermelho e Branco – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Leandro, ou Zinho como é conhecido, é manezinho, nascido e criado no Morro da Caixa, onde fica a Copa Lord. “Desde o começo veio a minha paixão pelo Carnaval. Saí na ala das crianças, saí na bateria, mas minha vontade sempre foi fazer parte da equipe de som”, diz.

Sua ligação com a música surgiu em 1997, quando tinha 15 anos e começou em um grupo de pagode. “A primeira escola a me dar oportunidade na música, em 2006, foi Os Protegidos da Princesa, onde cantei até 2011”, relembra dizendo que, em seguida, foi convidado a cantar na Copa Lord até 2016.

A escola de samba que deu oportunidade para Zinho se tornar intérprete oficial foi a Império Vermelho e Branco. “O presidente é meu amigo de infância. Ele me chamou para cantar em 2020, mas não pude. Depois da pandemia, no ano passado, foi a minha primeira oportunidade de atuar como intérprete oficial em uma escola série A. Estou muito feliz e com um pouco mais de experiência esse ano”, declara.

Dascuia

  • Horário do desfile: 21h15 às 22h25
  • Enredo: Cores do Coração, uma Jornada pelo Autismo
  • Intérprete oficial: Anderson da Costa (conhecido como São)
  • Natural de: Itajaí
  • Ocupação: motorista
  • Idade: 42 anos

Anderson da Costa, o São, da Dascuia – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Ligado ao Carnaval desde criança, Anderson já teve o seu primeiro contato quando criança, momento em que toda a família trabalhava na Unidos do São João, escola de samba de Itajaí, no Litoral Norte do Estado. “Minha vó comandava a ala das baianas, meu avô e pai faziam parte da bateria, minha mãe era passista, minha tia era porta-bandeira. Então sempre fomos envolvidos com o Carnaval”.

Mas a sua relação com a música começou aos 14 anos, quando iniciou a cantar com um grupo de pagode. Desde então não parou mais. “Com os meus 18 anos, cantei na Império dos Portuários, uma escola do Porto de Itajaí. Daí em diante, eu me tornei intérprete oficial e, nas demais escolas que participei em Itajaí, eu fazia apoio ao intérprete oficial”, relata.

Os caminhos a Florianópolis vieram a partir de um convite da Copa Lord, em 2018, para disputar uma disputa de samba-enredo.

“Eu sempre tive vontade de ver o Carnaval, mas devido ao meu trabalho e, às vezes, a condições financeiras, não conseguia. Só que eu queria só ver, não pensava em participar. Quando veio o convite da Copa Lord, eu fui para Florianópolis e fiquei em segundo lugar. Em seguida, nesse mesmo ano, fui convidado para disputar na Coloninha e fomos campeões”, relembra.

Em 2019, Anderson foi convidado para a Dascuia de uma maneira inusitada. “Em um aniversário, cantei uma música da Alcione e, assim que larguei o microfone, o presidente da época me fez o convite. Entrei como apoio e nos outros anos após a pausa por conta da pandemia, estou como intérprete oficial da Dascuia”, diz.

Os Protegidos da Princesa

  • Horário do desfile: 22h30 às 23h40
  • Enredo: Nessa Noite lá no Morro se Fez Batucada, a Celebração da Princesa no Palácio Seguro do Samba
  • Intérprete oficial: Lú Astral
  • Natural de: Novo Hamburgo (RS)
  • Ocupação: encarregado de uma fábrica de camas e box
  • Idade: 47 anos

Luciano Pereira, o Lú Astral – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Luciano Pereira, conhecido artisticamente como Lú Astral, iniciou sua carreira como intérprete na década de 1990, em uma escola de samba da cidade de Novo Hamburgo. “Por coincidência, lá no início, tive relação com a escola Os Protegidos da Princesa Isabel, quando desde criança frequentava com a minha família”, relembra.

O contato com o Carnaval de Florianópolis e com Os Protegidos da Princesa começou em 2021. “Nesse período de pausa por conta da pandemia, tive a oportunidade de fazer grandes amigos. A comunidade me aceitou e, hoje, me sinto totalmente em casa. Saí de uma Protegidos para ir para outra, e parece a mesma. O Carnaval me proporcionou muitas coisas e sou grato por isso”, declara.

União da Ilha da Magia

  • Horário do desfile: 23h45 à 0h55
  • Enredo: Citius, Altius, Fortius! Os Deuses do Olimpo Abençoado, o Skate na Ilha da Magia
  • Intérprete oficial: Marcelo Perna, Vlademir Rosa e Diogo Medeiros

Diogo (à esquerda) e Perna, da União Ilha da Magia – DIVULGAÇÃO/ND

A escola tem três intérpretes oficiais, com o mesmo peso de responsabilidade. Eles se inspiram na Mangueira e Salgueiro, do Rio de Janeiro, que já trouxe três intérpretes ao mesmo tempo.

Marcelo Perna, 55, manezinho, é um dos fundadores da União. É presidente do conselho deliberativo e também faz parte da diretoria executiva. Mora nos Estados Unidos, na América do Norte, e é ator no Cirque du Soleil. Se planeja todos os anos para vir para Florianópolis. Neste ano, desembarca na Ilha da Magia no dia 30 deste mês.

Diogo Medeiros, 36, manezinho, é músico e tem uma banda de pagode. Está na União da Ilha desde 2023 como intérprete oficial. “Minha primeira vez na escola já vencemos. Foi uma alegria muito grande”.

Vlademir, da União da Ilha – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Vlademir Rosa, 54, manezinho, é servidor da Prefeitura de Florianópolis e está na agremiação da Lagoa da Conceição desde 2017 como intérprete. “Cada trabalho que temos é um desafio. Nosso personagem principal é o Pedro Barros e é uma expectativa muito grande. Teremos muitas surpresas e convidamos os leitores para nos acompanhar na Nego Quirido”.

Acadêmicos do Sul da Ilha

  • Horário do desfile: 1h às 2h10
  • Enredo: Obaluaê, Senhor da Terra e da Cura!
  • Intérprete oficial: Nellipe Costa
  • Natural de: São José
  • Idade: 36 anos
  • Ocupação: gestor de TI

A jornada de Nellipe no mundo do Carnaval começou desde criança, influenciado pela família. Nasceu em São José, mas foi criado em Florianópolis, dando a oportunidade de apoiar diversas escolas de samba da Capital.

Nellipe Costa, da Sul da Ilha – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Em 2015, tornou-se intérprete oficial da União da Ilha da Magia, posição que ocupou por dois anos. Posteriormente, de 2017 a 2020, foi intérprete oficial da Embaixada Copa Lord, conquistando dois vice-campeonatos e um título do Carnaval de Florianópolis em 2018. “Em 2022, me preparando para o Carnaval de 2023, fui contratado pela Acadêmicos do Sul da Ilha, escola que me proporcionou a visibilidade necessária para me estabelecer como um intérprete renomado no Carnaval de Florianópolis”, relata.

Ele conta que, além de intérprete, é também compositor e criou sambas-enredos memoráveis para o Carnaval catarinense, como os da Copa Lord em 2018 e Unidos da Coloninha em 2020, ambos campeões com nota máxima na categoria samba-enredo.

Consulado

  • Horário do desfile: 2h15 às 3h25
  • Enredo: Aiuri-Caua
  • Intérprete oficial: Flávio Luiz
  • Natural de: Florianópolis
  • Idade: 39 anos
  • Ocupação: gastronomia

Flávio Luiz, da Consulado – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

Flávio iniciou no samba quando criança, acompanhando o pai. “Ter meu velho como inspiração foi o ponto chave para me apaixonar pela música”, declara. Logo após alguns anos, se tornou músico profissional com autorização dos pais. “Foi esse momento que desencadeou uma série de realizações profissionais”.

Ele entrou na Consulado em 1998, como integrante da bateria tocando surdo de terceira. “Foi em 2006 que recebi o convite para compor o quadro de apoio das vozes do grupo musical. Em 2011, fui nomeado intérprete oficial ao lado de Luizinho Andanças, e permaneci até 2013”.

Entre 2014 e 2016, passou por três agremiações como intérprete e, somente em 2018, retornou para Consulado como intérprete oficial “defendendo meu pavilhão junto à comunidade do Caeira”. “No ano de 2019, recebemos o título de campeã, em 2020 vice-campeões e, após dois anos de pandemia, retomamos avenida, junto à comunidade defendendo o amor a vermelho e branco do Caeira com uma grande vitória pois eu e meu grupo musical recebemos nota máxima dos jurados”, relembra. “Este ano está ainda mais especial, pois serei pai de gêmeos e eles estarão na avenida dentro da barriga da mãe defendendo o amor ao nosso pavilhão consulense”, afirma.

Embaixada Copa Lord

  • Horário do desfile: 3h30 às 4h40
  • Enredo: Praça XV, Paulo Fontes e Nego Quirido, um Manifesto pelas Escolas de Samba
  • Intérprete oficial: Mará de Nilopolis
  • Natural do: Rio de Janeiro
  • Ocupação: técnico em segurança do trabalho
  • Idade: 53 anos

Mará de Nilopolis, da Copa Lord – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

A trajetória de Mará com a Copa Lord começou em 2004. “Eu entrei na escola e, justamente neste ano, ganhamos com o enredo ‘Sob a Luz da Ponte Hercílio Luz’. Já nos dois seguintes, volto para o Rio de Janeiro para desfilar na Mocidade Independente de Padre Miguel”, relembra. “Em 2008, também fomos campeã com o samba-enredo ‘Matsuri em Sankateríni’ e a minha letra foi eleita a melhor do Brasil das escolas que tinham o mesmo tema”.

Em 2012, Mará saiu da Copa Lord, mas retornou este ano para uma despedida. “Eu faço 20 anos de Carnaval em Florianópolis este ano, e faço a minha despedida com a Copa Lord, se Deus quiser, com a embaixada se consagrando campeã”

Unidos da Coloninha

  • Horário do desfile: 4h45 às 5h55
  • Enredo: A Música Veio ao Nosso Encontro – Camerata Florianópolis 30 anos
  • Intérprete oficial: Alan Cardoso
  • Natural de: Itajaí
  • Idade: 44 anos
  • Ocupação: funcionário público da Prefeitura de Palhoça

Alan Cardoso, da Coloninha – Foto: DIVULGAÇÃO/ND

A história de Alan está ligada diretamente com o seu amor pela música e o Carnaval, herdados da família. “São 25 anos dedicados ao Carnaval. Iniciei em 1999, na escola Os Protegidos, onde fiquei até 2002. Fui bicampeão, defendendo sambas inesquecíveis”. Também participou da Consulado de 2003 a 2005, voltando em 2006 para Protegidos até 2019.

Cardoso entrou na Coloninha em 2020, realizando um sonho antigo de seus familiares. “Realizando o sonho do meu pai Nestor e do meu tio Reginaldo, que foi morador da rua Tupinambá, estreei na gigante do continente. Já no meu primeiro ano como intérprete, conquistei o título com o enredo ‘Sou Tripeiro com Muito Orgulho! Prazer, Sou a Gigante do Continente’”.

Alan ainda relata que coleciona outros feitos na carreira. “Em 2011, fiz parte do carro de som da Acadêmicos do Grande Rio, estreando na Marquês de Sapucaí e, no Carnaval do Rio de Janeiro”, relembra. “Para 2024, o compromisso de defender mais um grande samba com todo amor e emoção”.

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