Horta Urbana de São José une comunidade e impulsiona a economia solidária

Em março de 2022 o projeto Horta Solidária Urbana de São José saiu do papel, a primeira foi a do Morar Bem, instalada em um terreno no bairro Serraria. Antes, o local era depósito para descarte irregular de inúmeros resíduos, o espaço ganhou mais verde e movimento da comunidade.

Giane Fernandes colhe muda de alface em horta de São José

Giane Fernandes cultiva alimentos em horta de São José – Foto: Paulo Metling – ND

Hortaliças, legumes e demais cultivares podem ser consumidos pelos produtores ou vendidos,  proporcionando a renda a quem dedica tempo, cultiva vida e colhe o resultado.

É nesta horta que existe o sistema Colhe e Pague, sempre aos sábados, o lugar é aberto para a venda dos produtos. Luis dos Santos, coordenador geral do programa,  explica que é uma oportunidade de gerar renda “isso reverte em dinheiro para o morador que consegue, por exemplo, comprar mudas e plantar mais. É como se fosse uma feira,  é importante principalmente a quem faz parte do CadÚnico.”

Economia solidária

Há um ano em São José, Ourides Soares e Izilda Esposito trabalhavam no plantio de culturas em Seara, no oeste catarinense. A mudança para a Grande Florianópolis veio carregada de conhecimento.

Casal posa ao lado de horta em São José

Ourides Soares e Izilda Esposito – Horta Urbana de São José – Foto: Paulo Metling – ND

Ourides, por R$ 0,20, fornece mudas de hortaliças aos demais moradores na Horta Solidária Urbana do Lisboa. Um preço simbólico para quem sabe muito e que compartilha, além das mudas, técnicas de como cultivar adequadamente. “O segredo da horta é o seguinte: preparar a terra, saber a quantidade do adubo e depois do plantio, no momento da colheita, é preciso saber o ponto de colher. Tu tem que pensar em tudo isso”, comenta o pintor.

Cooperar para uma produção socialmente justa, que une a comunidade e contribui para impulsionar a solidariedade, ou seja, a chamada economia solidária.

O economista Pedro Henrique Pontes explica que o termo surgiu com um propósito bem definido: “Tornar as relações econômicas mais humanas. Tenta trazer que os elementos sensibilizam o ser humano, não só uma relação de compra e venda. Tanto as empresas, como as pessoas colocam os preços e custos de forma justa”. A ideia é buscar a cooperação entre todos.

Colhendo saúde

Hoje são cinco hortas que compõem o programa: a do Morar Bem, Forquilhinhas, Ipiranga, Areias e Lisboa. Cada região tem sua particularidade, mas o que tem em comum é a união dos moradores.

O cuidar da terra e escolher melhor o alimento é a opção feita pela Marli Jabonski. A aposentada é filha de agricultores, para ela, a horta solidária de Lisboa é a chance de ficar ainda mais próxima da família. “Eu venho para cá duas vezes ao dia, trago meus netos, eles ajudam a semear. Além disso, meus três filhos também ajudam a cuidar do canteiro. Para mim isso aqui é uma terapia”.

Mulher segura muda de alface em frente à horta em São José

Marli Jabonski na Horta Urbana Solidária de São José – Foto: Paulo Metling – ND

No canteiro ao lado, um morador organiza a hortaliça como se estivesse cuidando de uma flor. Empresário, dono de uma floricultura, José André Soares planta hortaliças e colhe saúde. “Plantar tem me ajudado muito a controlar a ansiedade. Aqui ajudo o pessoal a plantar também, a saber qual é a melhor distância e se precisa usar algum adubo. Já tive depressão, esse lugar aqui me acalma”.


José André Soares cultiva alimentos em Horta Urbana Solidária de São José - Paulo Metling - ND

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José André Soares cultiva alimentos em Horta Urbana Solidária de São José – Paulo Metling – ND


José Andrade Soares diz que cultivo em horta o ajuda a combater depressão - Paulo Metling - ND

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José Andrade Soares diz que cultivo em horta o ajuda a combater depressão – Paulo Metling – ND

O terreno do vizinho está mais verde

A Horta Solidária do Lisboa é a quinta entregue ao município, ao lado da capela Nossa Senhora de Fátima, um terreno que era ocupado por entulho e lixo.

Reservatórios de lixo em reciclagem de São José

Separação do lixo ao lado de horta em São José – Foto: Paulo Metling – ND

Foram necessários quarenta caminhões para a retirada de todos os resíduos. “Esse espaço era feio, tinha muito entulho, uma coisa abandonada. Um dia limparam tudo, fiquei maravilhada. Isso me conecta à natureza, é muito bom esse contato com a natureza”, comenta a auxiliar de sala Deyse Ramos.

Mulher em frente à horta em São José

Deyse Ramos em frente à Horta Urbana Solidária de São José – Foto: Paulo Metling – ND

Na frente da casa da família do metalúrgico Alexandro Silveira, o horizonte ganhou mais verde e sossego, porque os mosquitos deixaram de ser presença frequente.

Alexandre fala sobre a tranquilidade de quem se sente mais seguro e feliz pela mudança em um local que era apenas depósito de tudo. “Eu moro aqui há vinte e sete anos. Tinha muito pernilongo, gastava até quatro frascos de repelente por mês. Ficou um espaço muito bom, aproveitável”.

José Rock e Alexandro Silveira atrás de horta em São José

José Rock e Alexandro Silveira em horta de São José – Foto: Paulo Metling – ND

O primo José Rock, também frequenta a horta. O aposentado diz que se sente grato por plantar com os familiares. “É bom ver a terra, adubar e plantar. Quando colho é muito legal, fico feliz em saber que eu mesmo fiz todo o processo”, pontua o aposentado.

A professora Giane Fernandes mora há quinze anos no bairro, sempre achou que transformar espaços abandonados poderia ser a opção mais consciente a se fazer. “Eu sempre busquei alimentação saudável, fui criada com avós desde pequena e fazíamos isso. Essa transformação deveria acontecer em todos os espaços públicos disponíveis, traz entrosamento com a comunidade, ajuda até na troca de experiência.”

Giane Fernandes colhendo muda de alface na horta.

Giane Fernandes cultiva alimentos em horta de São José – Foto: Paulo Metling – ND

Horta solidária é Projeto de Lei

A ideia do Programa Horta Solidária Urbana nasceu para a ocupação, por parte dos cidadãos, de espaços que antes estavam abandonados, sem cuidado e suscetíveis a ambientes de risco aos próprios moradores da localidade. Animais peçonhentos e possíveis criadouros do mosquito da dengue deixaram de estar presentes nos terrenos.

A LEI N° 5739/2019 criou o programa para atender sete objetivos estabelecidos, sempre na busca do desenvolvimento e inclusão  da comunidade local. A horta passou a ser o incentivo: à geração de renda complementar; à agricultura social e à economia solidária; e a produção para o autoconsumo. Além disso, reduziu o custo do acesso ao alimento para consumidores finais; deu a chance de trabalho à mão de obra desempregada. E vai além: oferece a oportunidade de ressocialização às pessoas que cumprem pena por crimes de menor potencial, isso através do trabalho voluntário. E dá um novo sentido de ocupação, pois facilita o manejo da horta e mantém os terrenos públicos ocupados e organizados.

Objetivos da ONU

A horta integra e incentiva o crescimento individual e o coletivo, é um projeto pautado dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. São dezessete objetivos, o programa Hortas Solidárias Urbanas segue onze deles.

Lista de desenvolvimentos sustentáveis da ONU

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU – ODS – Foto: Agência ONU

Em novembro do ano passado, o programa de São José recebeu menção honrosa na categoria Poder Público, no Fórum Brasil ODS SC 2023. O objetivo do projeto é ampliar o números de hortas, sempre integrando a comunidade. A ideia é chegar nos próximos meses a dez hortas em São José.

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